Bossa nova literária
Já contei que meu primeiro escritor de carne e osso foi o poeta Abgar Renault, incrustado na memória desde o dia em que, menino, o vi na minha rua, em Belo Horizonte, onde morava também seu pai, o professor Leon. Sua figura, ali em pé numa calçada, ficaria sendo por bom tempo meu arquétipo de prosador ou poeta – um velho de chapéu e barbaças, hipster antes de ser moda, encadernado em terno escuro, com o ar avoado de quem só tivesse ouvidos para as musas e olhos postos na posteridade já bem próxima. Barbaças o Abgar não tinha, mas a gravata e o chapelão preto lá estavam, além de olheiras cavadas pelo vício da leitura, e mais, imaginava eu, um hálito de ácaros inalados nas bibliotecas.